Todos nós, sem exceção, já passamos por algum momento de dor ou de sofrimento na Terra e ainda haveremos de passar por outros mais.
Sabemos que a Terra não é um planeta de felicidade. Mas será que não podemos sofrer menos? Para isto, é preciso reconsiderar aquilo que entendemos como dor e sofrimento e a primeira questão que surge é: Qual o sentido da vida?
Ou melhor, qual o sentido que damos à vida? Se analisarmos, vamos perceber que o sentido humano de vida está diretamente associado ao prazer e não ao crescimento.
O homem não pensa em crescer, em se desenvolver ou mesmo que o sentido da vida seja sua evolução. Pensa sim em ser feliz. E como? Pelo gozo dos prazeres materiais. Na formação do caráter humano não fomos ensinados a gostar do bem e a rejeitar o mal, fomos ensinados a gostar apenas daquilo que nos é ‘agradável’!
Podemos observar isto pela forma como nos cumprimentamos. Se observarmos ao longo da história, as civilizações reservam uma palavra muito especial a ser usada quando você é apresentado a alguém, que é uma expressão dos seus melhores desejos para aquela pessoa que naquele momento você conhece:
Na Índia: o “namastê”, que é o Divino. Em roma: o “ave”, ao Sagrado; Entre os árabes: “as-salamu alaikum”, a Paz esteja convosco. Entre os Incas: “ama llulla, ama sua, ama k’ella”, não sejas mentiroso, não sejas ladrão, não sejas ocioso…
E nós? Hoje quando você é apresentado a uma pessoa nova o que é que você diz para ela? Muito Prazer!!!
Ou seja, o que eu tenho de mais sagrado, nobre, excelso e divino eu desejo a você… e o que é isso? É o prazer. Então para nós a felicidade é o prazer…. E a dor o que é?
Vemos na dificuldade uma coisa que temos que nos poupar a qualquer preço. E a felicidade é a nossa meta, que está diretamente associada ao prazer.
Assim, se vivemos a ‘dor’ queremos ajuda para nos libertar dela e não para crescer através dela. Não vemos a dor como ferramenta de transformação. Vemos a dor como castigo. Perdemos a oportunidade de passar através desta dor e perceber o que ela está querendo nos ensinar, perdemos a oportunidade de aprender com ela, porque nosso objetivo não é crescer, mas sim ficar confortável.
E para nos libertar da dor transferimos a responsabilidade para fora de nós. Se eu acho causas ou culpados para minha dor, que tem que mudar são eles e não eu… E eu tomo nessas causas um comodismo, já achei um culpado e me acomodo, tiro de mim a responsabilidade de reação… Não olhamos para o futuro, ficamos no passado e perdemos a oportunidade de crescer.
Mas se entendermos que o sentido da vida é crescer: Não importa como eu cheguei neste problema, o que importa é que eu vou sair, eu vou chegar lá. Porque é o que eu quero!
A projeção da vontade humana é que traz à tona o nosso potencial, a força da vontade é que faz surgir as ferramentas que necessitamos para sair do problema. Não há como transferir a responsabilidade, temos que agir com vontade, determinação, coragem e garra. Ficar detido pela dor é morbidez, é vitimização!
A questão não é a dor em si, é a maneira como lidamos com ela, é a nossa disposição de entrar nela e sair do outro lado: Maiores.
E aí você vai perceber que há dores e dores:
- Uma coisa é a dor do egoísmo, de querer algo só para mim. A dor do materialismo, de não ter todo o reconhecimento pessoal que eu pretendia, de não ter todos os objetos que eu gostaria, etc. Vocês conseguem perceber que é uma dor mórbida. É uma dor que não te faz bem, que alimenta aquilo que temos de mais mesquinho.
Mas dor em si não é negativa:
- Porque diferente é a dor de eu perceber que deixei para trás algo que me prendia, que deixei para trás um estado de consciência que eu superei. E que traz felicidade a quem o recebe. É a dor de expandir, esta dor de crescer, de vencer limites…
Você percebe que às vezes dói também? Mas é uma dor construtiva. Nem sempre a dor destrói, porque a vida é isto e crescer dói, mas é uma renovação.
Os Budistas dizem que a dor é um veículo de consciência, que alavanca a sua escolha pelo crescimento interior.
É possível perceber um novo sentido na dor? É possível perceber que ela é solução que leva o homem a algo mais permanente; é um elemento para incentivar um salto de consciência. Ela convida o homem a crescer, mas não obriga! Ninguém obriga o homem a crescer…
É como o esforço da borboleta para se libertar do casulo. Todo aquele que se propõe a trazer um pouco de luz para si, deixa um pouco de sangue pelo caminho…tem uma certa dor nisto. Deixa coisas para trás, tem o esforço de crescer, tem o esforço de se renovar, de abandonar posições que o limitavam, egoísmos que o travavam.
Mas para aprender com a dor é preciso tomar para si a responsabilidade. Assumir que o teu sofrimento não é casual e nem foi provocado por terceiros, porque a tua dor foi provocada pela tua própria necessidade de crescer.
Admitir que a dor vem te ensinar alguma coisa e ter a humildade de olhar para dentro. Quando passamos por uma situação dolorosa, difícil e conseguimos atravessar isso, chegamos a um outro patamar de consciência.
Quando você olha para trás e vê o que aquilo te permitiu crescer como ser humano, o que aquilo te permitiu servir melhor ao seu propósito de vida e não viver em vão….
No momento em que integramos esta experiência podemos olhar para trás e perceber que pelo que eu cresci, não foi caro, foi um bom preço. Pelo que me permitiu crescer e servir melhor como ser humano, não foi caro, não foi injusto, foi um bom preço. Eu integrei a dor.
Este é o verdadeiro renascimento… A lagarta morreu, para que a borboleta ocupasse o seu espaço!
Quem não quer crescer, vê na dor uma tortura. É a dor mórbida, que você sofre quando não se conforma com as provas da vida, gerando um círculo vicioso de pensamentos negativos, que só fazem com que você vá se mutilando, se vitimizando e abrindo brechas para influências espirituais extremamente negativas.
Não nos esquecemos que muitas de nossas dores nós mesmos escolhemos antes de nascer, pois fazem parte do nosso karma. Nos dizeres do poeta Khalil Gibran a dor é o remédio mais amargo com o qual vosso médico interior cura o vosso eu doente.
Para trazer um pouco de luz para sua própria vida, algumas coisas vão ter que ficar para trás, algumas coisas vão ter que morrer para que novas coisas nasçam no lugar.
Essa dor de quem está deixando coisas para trás e se libertando de padrões negativos, que te torna mais leve. Sofre, mas ao mesmo tempo você percebe que se purifica.
Temos que reconhecer estes tipos de dores dentro de nós: podemos escolher como conduzir nossas vidas daqui por diante, que tipo de dor vamos cultivar: a dor em que ficamos girando em torno do mesmo ponto e dali não vamos sair, acabando por nos mutilar, nos vitimizar e nos destruir OU a dor que nos fará levantar voo, porque algo ficou para trás, perdemos o casulo que nos segurava, ficamos mais leves e crescemos. Pensem nisso!